quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Comissão Nacional da Verdade - Acho válido!


 Olá para todos! Há um bom tempo que eu não apareço por aqui... o Blog está quase órfão, coitado... Mas eu estou aqui para falar sobre um assunto um tanto o quanto perigoso, e, perdoem-me por não sabê-lo tão bem o quanto desejaria para poder escrever sobre o mesmo... Mas  o que vale é a intenção, e hoje eu estou com o espirio rebelde e sedento por inovação! "Vamo que vamo que o som não pode parar"!
 Estava eu, em pleno sábado passado, à meia noite, assistindo à TV quando me deparei com um debate interessantíssimo sobre a Comissão Nacional da Verdade na TV Senado. Estavam reunidos lá 2 cientistas políticos (um senhor e uma mulher), um representante dos militares (não me lembro ao certo se ele era um general da reseva já... perdão por isso...), um deputado do PT ligado aos direitos humanos e o líder do PSDB na Câmara (desculpem-me pela ignorância... Eu não me lembro dos nomes deles...).
 Falou-se sobre a Lei de Anistia, em que ciscunstâncias ela foi feita, se ela ainda é eficiente, se ela foi realmente boa para a época, etc; falou-se também da questão da tortura feita pelos militares; dos movimentos armados que mataram pessoas; se essa montagem de uma comissão para rever o que foi feito durante o regime militar de 1964-1985 é pertinente, se é somente um revanchismo da esquerda; se foi realmente um golpe. Discutiu-se também que tipo de pessoas deveriam participar da Comissão para fazer as pesquisas, quem deveria coordená-las, orientá-las... Várias questões pertinentes as quais eu darei rapidamente o meu parecer.
 Quanto à Lei de Anistia: o líder do PSDB na Câmara disse que ela foi perfeita para a época, por conta do clima de incerteza, instabilidade que existia na época. Disse que foi oportuna e promoveu pacificação. Certo. Opinião dele. Mas, o que a Comissão Nacional da Verdade quer é descobrir o que realmente aconteceu durante o regime militar, e, creio eu, isso não implica a revisão da Lei de Anistia (embora, na minha opinião, ela seja falha em muitos aspectos), então não é necessário alarde, preocupação ou revoltas quanto a essa questão.
 A cientista política ali presente disse que a tortura feita pelos militares, o uso de violência, foi uma opção dos militares, ela não era exigência e nem era inerente à ditadura, portanto. Já o representante dos militares disse que esta medida era necessária, era necessário o uso de violência mediante a situação em que o país se encontrava. Na minha visão, ditaduras são péssimas em qualquer circunstância, sendo elas com violência ou sem violência. E se ela foi usada como opção ou não, isso poderá ser avaliado com a Comissão.
 Quanto aos movimentos de luta armada, o representante dos militares disse que houve caso de terrorismo por parte dos militantes (ligações de ameaça, sequestros...), e que este ponto quase não se fala: não se fala das atrocidades cometidas pelos grupos de esquerda que também usaram da tortura para obter informações. Eu, pessoalmente, como não conheço muito deste ponto da ditadura, gostaria de sabê-lo. E creio que várias outras pessoas também.
  A certa altura da discussão, a mediadora/apresentadora, perguntou a um dos presentes (não me recordo quem) se é oportuno, se a nossa democracia estaria pronta para uma Comissão da Verdade. Não me lembro ao certo o que ele respondeu, mas foi a resposta da cientista política que me chamou a atenção. Ela disse que não se trata de um "momento oportuno" para fazer a Comissão, mas isso é, na verdade, uma obrigação do nosso Estado, sendo ele democrático. Ele deve isso à população. E, sinceramente, eu concordo.
  Num dado momento, o representante dos militares disse o que ele achava ser adequado à Comissão da Verdade quanto aos seus componentes. Ele disse que deveriam haver pesquisadores de direita e de esquerda de igual número para fazer as pesquisas e que uma entidade neutra deveria coordenar a pesquisa. A cientista política argumentou que este pensamento ainda é dos tempos de ditadura militar, em que de um lado está o bem, e de outro está o mal, caracterizando essa ideia de revanchismo da esquerda que os opositores à Comissão dizem existir. E ela interou que essa ideia é inútil, posto que estamos em uma democracia, e as pessoas comprometidas devem buscar a verdade acima de tudo. E é isso o que se vai fazer.
  Perto do fim da discussão, falaram sobre os arquivos que as Forças Armadas possuem sobre o regime militar, e se eles ainda existem, por qual razão as Forças Armadas não os mostram. A cientista política disse que as Forças Armadas, sendo uma instituição muito respeitada hoje em dia, com todo seu crédito, deveria mostrar esses documentos e reconhecer perante a sociedade que houve ajuda deles para com os militares e que aquela época passou, e eles não farão o que seus precurssores fizeram. E fazer isso para que o "fantasma" da ditadura militar não mais os cerque. O representante dos militares respondeu dizendo que as Forças Armadas não devem pedir desculpas à sociedade por algo que eles não fizeram e que não faz parte do tempo deles. Argumentou que a instituição mudou e também seus integrantes. Ela concordou neste ponto, e salientou que não seria um pedido de desculpas, mas sim um reconhecimento de uma verdade histórica.
 O que eu concluí, após assitir ao debate, é que a Comissão Nacional da Verdade, a despeito de qualquer posição política, é necessária para o desenvolvimento da nossa democracia. Ora, as famílias dos desaparecidos políticos merecem saber onde estão os seus parentes, ou seus possíveis paradeiros; se estão vivos ou mortos... Enfim, saber a verdade é fundamental para que a nossa democracia cresça e se consolide, e para que esse pensamento conservador de que "tudo está bem como está" e que isso é "revanchismo da esquerda" se esvaeça de vez e a verdade prevaleça. Doa a quem doer.
 E termino com uma frase dita pelo cientista político (é uma vergonha eu não me lembrar do nome dele e dos outros!) que, particularmente, achei muito interessante e verdadeira:
 "A História é o corpo da vida".

Agora vai aí abaixo para vocês alguns links que falam sobre Comissão Nacional da Verdade, só para a minha postagem não ficar tão vaga e para poderem ler com seus próprios olhos e tirar suas conclusões. Afinal, é pra discutir que estamos aqui, não?


O Globo:  http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/01/13/entenda-polemica-sobre-comissao-nacional-da-verdade-915516271.asp
Portal EcoDebate: http://www.ecodebate.com.br/2010/02/03/a-comissao-nacional-da-verdade-e-a-anistia-artigo-de-apolo-heringer-lisboa/
Correio da Cidadania: http://www.correiocidadania.com.br/content/view/4295/56/
 


.#>. Mariana .<#.
Força sempre!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Argumentos



Olá, puevo! Já faz um tempo que eu não passo por aqui pois, ah, eu confesso: a preguiça me consome! Por isso mesmo a Mariana, que é mais expressiva e perseverante do que eu, vai estar postando mais vezes; quando bater a vontade eu passo aqui... Mas hoje eu vim trazer pra vocês um capítulo  do livro "Assim falou Zaratustra", cujo nome é "Do novo ídolo", do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), onde ele expõe sua fortíssima crítica sobre o estado. Friedrich adotou uma filosofia extremamente pessimista, e esse pequeno trecho comprova-o; não cumpre, pois, se influenciar demais pela crítica supra-ácida dele, cumpre observar as semelhanças e ponderar sempre - como é costume dizer, toda regra tem sua exceção. Aí vai:




DO NOVO ÍDOLO


Ainda em algumas partes há povos e rebanhos; mas entre nós, irmãos, entre nós há Estados.
Estados? Que é isso? Vamos! Abri os ouvidos, porque vos vou falar da morte dos povos.
Estado chama-se o mais frio dos monstros. Mente também friamente, e eis que mentira rasteira sai da sua boca: “Eu, o Estado, sou o Povo”.
É uma mentira! Os que criaram os povos e suspenderam sobre eles uma fé e um amor, esses eram criadores: serviam a vida.
Os que armam laços ao maior número e chamam a isso um Estado são destruidores; suspendem sobre si uma espada e mil apetites.
Onde há ainda povo não se compreende o Estado que é detestado como uma transgressão aos costumes e às leis.
Eu vos dou este sinal: cada povo fala uma língua do bem e do mal, que o vizinho não compreende. Inventou a sua língua para os seus costumes e as suas leis.
Mas o Estado mente em todas as línguas do bem e do mal, e em tudo quanto diz mente, tudo quanto tem roubou-o.
Tudo nele é falso; morde com dentes roubados. Até as suas entranhas são falsas.
Uma confusão das línguas do bem e do mal: é este o sinal do Estado. Na Verdade, o que este sinal indica é a vontade da morte; está chamando os pregadores da morte.
Vêm ao mundo homens demais, para os supérfluos inventou-se o Estado!
Vede como ele atrai os supérfluos! Como os engole, como os mastiga e remastiga!
“Na terra nada há maior do que eu; eu sou o dedo ordenador de Deus” — assim grita o monstro. E não são só os que têm orelhas compridas e vista curta que caem de joelhos!
Ai! também em vossas almas grandes murmuram as suas sombrias mentiras! Aí eles advinham os corações ricos que gostam de se prodigalizar!
Sim; adivinha-vos a vós também, vencedores do antigo Deus. Saistes rendido do combate, e agora a vossa fadiga ainda serve ao novo ídolo!
Ele queria rodear-se de heróis e homens respeitáveis. A este frio monstro agrada-lhe acalentar-se ao sol da pura consciência.
A vós outros quer ele dar tudo, se adorardes. Assim compra o brilho da vossa virtude e o altivo olhar dos vossos olhos.
Convosco quer atrair os supérfluos! Sim; inventou com isso uma artimanha infernal, um corcel de morte, ajaezado com adorno brilhante das honras divinas.
Inventou para o grande número uma morte que se preza de ser vida, uma servidão à medida do desejo de todos os pregadores da morte.
O Estado é onde todos bebem veneno, os bons e os maus; onde todos se perdem a si mesmos, os bons e os maus; onde o lento suicídio de todos se chama “a vida”.
Vede, pois, esses supérfluos! Roubam as obras dos inventores e os tesouros dos sábios; chamam a civilização ao seu latrocínio, e tudo para eles são doenças e contratempo.
Vede, pois, esses supérfluos. Estão sempre doentes; expelem a bilis, e a isso chamam periódicos. Devoram-se e nem sequer se podem dirigir.
Vede, pois, esses adquirem riquezas, e fazem-se mais pobres. Querem o poder, esses ineptos, e primeiro de tudo o palanquim do poder: muito dinheiro!
Vede trepar esses ágeis macacos! Trepam uns sobre os outros e arrastam-se para o lodo e para o abismo.
Todos querem abeirar-se do trono; é a sua loucura — como se a felicidade estivesse no trono! — Freqüentemente também o trono está no lodo.
Para mim todos eles são doidos e macacos trepadores e buliçosos. O seu ídolo, esse frio monstro, cheira mal; todos eles, esses idólatras, cheiram mal.
Meus irmãos, quereis por agora afogar-vos na exalação de suas bocas e de seus apetites? Antes disso, arrancai as janelas e saltai para o ar livre!
Evitai o mau cheiro! Afastai-vos da idolatria dos supérfluos.
Evitai o mau cheiro! Afastai-vos do fumo desses sacrifícios humanos!
Ainda agora o mundo é livre para as almas grandes. Para os que vivem solitários ou aos pares ainda há muitos sítios vagos onde se aspira a fragrância dos mares silenciosos.
Ainda têm franca uma vida livre as almas grandes. Na verdade, quem pouco possui tanto menos é possuído. Bendita seja a nobreza!
Além onde acaba o Estado começa o homem que não é supérfluo; começa o canto dos que são necessários, a melodia única e insubstituível.
Além, onde acaba o Estado... olhai, meus irmãos! Não vedes o arco-iris e a ponte do Super-homem?”
Assim falava Zaratustra.


Alguma semelhança...




Obs: Essa história de Super-homem é um detalhe da filosofia de Nietzsche que não merece destaque. Eu não estou aqui pra  defender nada em especial.


Tá aí!